Cinco gestos marcam os primeiros 30 dias do Papa Francisco

A eleição do Papa Francisco foi uma surpresa. E a sua forma de atuar rompeu com o tradicional desde o primeiro minuto, no Vaticano. Aqueles que o melhor conhecem explicam que para entender a sua mensagem, os gestos são tão ou mais importante do que as palavras. “Ele é muito receptivo ao que está acontecer, viram-no nestes dias. Ele prepara o que vai dizer. Mas se há algo está acontecer, é que alguma coisa tocou o seu coração para o que está acontecer ou o que estamos a ver… E ele o manifesta “. MONS. EDUARDO GARCIA, Bispo auxiliar de Buenos Aires (Argentina)

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Podemos resumir o início chave de seu pontificado em cinco gestos que saíram do coração. Continuar a ler

Domingo III Da Páscoa

“Enquanto estivermos aqui
Se me ouvires cantando, canta comigo
Se me vires chorando, sorri

Tás a ver a vida como ela é?
Tás a ver a vida como tem que ser?
Tás a ver a vida como a gente quer?
Tás a ver a vida pra gente viver?

Nossa vida é feita
De pequenos nadas”

Tás a ver?, Gabriel O Pensador

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Este domingo fala-se de confiança e Missão. No Evangelho, vemos que os discípulos ainda não haviam se deixado tocar totalmente pela força do Ressuscitado. Mesmo tendo visto o Senhor, voltaram às atividades quotidianas. Além disso, realizavam um trabalho vão, pois não pescaram nada.

A presença de Cristo causou uma transformação, iniciada com uma provocação de fé: “joguem a rede do lado direito!” Deviam confiar, abrindo-se para a graça da fé, obedecer mesmo quando parecia improvável. Com esta atitude, é-nos lembrado que somos  escolhidos e agraciados, precisamos de ter consciência do sentido que o Senhor Ressuscitado traz para as nossas vidas: abraçar a alegria, o sentido da vida e da missão.

O maior milagre não foi a pesca. Mais importante foi a transformação de vida operada naqueles discípulos. Mais ainda a transformação de Pedro: de negador e temeroso em apóstolo do amor.

A nossa VIDA parte desta transformação que nos impele a ESTARMOS ATENTOS, seguir sempre rumo à(s) OUTRAS MARGENS onde precisam de nós e onde a VIDA SE FAZ DE PEQUENOS NADAS. Está aí o sentido da vida e da missão que nos foi confiada.

Há 50 anos, a encíclica Pacem in Terris

1. Em 11 de abril de 1963, há cinquenta anos, dava o Papa João XXIII a encíclica Pacem in Terris.

A encíclica – dirigida, pela primeira vez entre todas as encíclicas, não só aos fiéis mas também a todas as pessoas de boa vontade – abria com a afirmação solene e clara de que “paz na Terra, anseio profundo dos seres humanos de todos os tempos, não se pode estabelecer nem consolidar senão no pleno respeito da ordem instituída por Deus”.

Mas essa ordem era uma ordem moral, jurídica e política, assente no “princípio de que cada ser humano é pessoa; isto é, natureza dotada de inteligência e vontade livre” e dotada de “direitos e deveres universais, invioláveis e inalienáveis”. “E, se contemplarmos a dignidade da pessoa humana à luz das verdades reveladas, não poderemos deixar de tê-la em estima incomparavelmente maior”.

A partir daí, o texto desenvolvia se numa linha ascendente, considerando a ordem entre os seres humanos, as relações entre os seres humanos no interior das nações, as relações entre as comunidades políticas e as relações dos indivíduos e das comunidades políticas com a comunidade internacional. E a paz que se procurava nesses âmbitos progressivamente alargados havia de fundar se (dizia se quase no fim) na verdade, constituir se segundo a justiça, alimentar se e consumar se na caridade, realizar-se sob os auspícios da liberdade. Continuar a ler

O ser humano não tem cura

1. Hoje, na Europa, já não temos religião cristã suficiente para a culpar de todos os nossos males. A repetida e gasta retórica da “morte de Deus” também já não assusta nem seduz. Decretou-se, em nome da autonomia da razão, que o ser humano, ser de relações múltiplas, deve viajar sozinho e por sua conta e risco.

Acentuou-se, desde o humanismo dos séculos XV e XVI, a viragem antropológica que atingiu na modernidade, com o proclamado acesso do ser humano à idade adulta (I. Kant), uma confiança muito celebrada e algo exagerada na ideologia do imparável “progresso”, entretanto sob acusação. Foram as próprias ciências humanas que acabaram por humilhar o “narcisismo do homem”, na expressão de S. Freud. A cosmologia mostrou a sua condição periférica e a biologia fez dele apenas o resultado da evolução da vida; para a sociologia, não vai além do resultado das condições sociais e para a psicologia, são as pulsões inconscientes que o comandam. É, afinal, a vaidade de pouca coisa.

Além do mais, o ser humano, embora tenha chegado muito tarde ao palco do mundo, pelos crimes que junta às suas grandes realizações, não pode esperar ser o último a desaparecer. Ao mostrar-se mais apressado em criar problemas a si mesmo e à natureza do que em curar a sua persistente vontade de dominação destruidora, sobretudo pela sua falta de sabedoria, parece uma espécie sem remédio. Ao consentir na transmutação de todos os valores, afunda-se no niilismo, na “morte do homem” e pensa numa saída pela porta do “pós-humano”. O recurso da falta de sentido da boa medida é o delírio, às vezes, perigoso. Continuar a ler

A Igreja tem um problema com as mulheres?

Há quem entenda que a Igreja católica tem um problema com as mulheres. O tópico, que não chega a ser sequer um argumento, era recorrente na voz das feministas de 68, que hoje são, pela certa, muito respeitáveis avós. Contudo, como o preconceito persiste, merece algumas sumárias considerações.

Desde os primórdios do Cristianismo que mulheres e homens gozam da mesma dignidade. A distinção funcional não obsta a esta fundamental igualdade de todos os fiéis porque, como ensina o Concílio Vaticano II, todos são chamados por igual à perfeição da vida cristã. Lucas enaltece a Mãe de Jesus e esclarece que, a par do grupo masculino dos doze apóstolos, também um conjunto de mulheres seguia o Mestre, com igual dedicação. Não estranha, portanto, que os relatos bíblicos da ressurreição de Cristo tenham, como protagonistas, as mulheres. Pelo facto de Maria Madalena a todos se ter antecipado no anúncio do ressuscitado, foi até cognominada “apóstola dos apóstolos”. Continuar a ler

PEDRO, O LUME NOVO, A REFEIÇÃO NOVA, O AMOR MAIOR

©tommi zaqin

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1. A oposição luz – trevas atravessa de lés a lés o inteiro texto do IV Evangelho. A Luz verdadeira que vem a este mundo para iluminar todos os homens é Jesus (João 1,9). Sem esta Luz que é Jesus, andamos às escuras, na noite, na dor, no fracasso, na incompreensão. É assim, narrativamente – e, portanto, exemplarmente, para nós, leitores –, com Nicodemos, que anda de noite (João 3,2), com Judas, o homem da noite que tudo anoitece à sua volta  (João 13,30; 18,3), com os sete discípulos da cena de hoje que trabalharam toda a noite, sem sucesso (João 21,3).

 2. Mas Jesus aparece de madrugada na praia, no limiar do dia e da alegria, aqui perto, a cem metros de nós. Com os olhos embotados pela doença do escuro, não O reconhecemos à primeira. Mas ouvimos a Sua voz carregada de verdade, que nos desvenda («Não tendes nada para comer, pois não?» (João 21,5) e nos aponta rumos verdadeiros («Lançai a rede para a direita da barca, e encontrareis») (João 21,6). Não o reconhecemos à primeira. Mas vemos e lemos os Sinais. «É o Senhor», diz para Pedro o discípulo, aquele que Jesus amava (João 21,7). E Pedro correu na direcção de Jesus. Os outros seis vieram também, arrastando a barca carregada de peixes. Continuar a ler